O Vasco da Gama reinaugurou em setembro do ano passado o Centro de Treinamento de Itaguaí, reformado em virtude de exigências do Ministério Público, que investigou as dependências do cruzmaltino após o falecimento do garoto Wendel e detectou uma série de problemas.

A reforma serviu para melhorar a estrutura e transferir de vez as categorias de base do Gigante da Colina de São Januário para o local. Um dos setores que mais sofreu mudanças foi o departamento médico, que passou a contar com uma equipe própria de profissionais, tornando-se assim menos dependente do departamento localizado em São Januário.

Para saber um pouco mais sobre a estrutura médica oferecida para as promessas vascaínas, o programa ‘Só dá Base’, do grupo Só dá Vasco, entrevistou o médico Carlos Henrique da Silva Fontes, que é especialista em Traumato-Ortopedia. No bate-papo, o profissional falou sobre as mudanças que promovidas no local e deu detalhes de como funciona o departamento médico das categorias de base.

Bate-papo exclusivo com Carlos Fontes Filho, médico das categorias de base do Vasco:

Primeiramente doutor, gostaria que o senhor falasse um pouco sobre sua formação e sobre sua trajetória no futebol. Por qual motivo resolveu trabalhar com a medicina esportiva? Quando iniciou sua trajetória no Vasco?

“Meu nome é Carlos Henrique da Silva Fontes Filho, sou médico formado pela Faculdade de Medicina Sousa Marques, especialista em Traumato-Ortopedia, fiz residência médica na Marinha do Brasil e sou pós-graduado em medicina esportiva pela Universidade Veiga de Almeida. Eu trabalho na área de cirurgia no joelho junto com a equipe do Doutor Alexandre Campello, que foi médico do Vasco por um longo período. A minha trajetória no futebol é interessante pelo fato dela ter se iniciado antes mesmo que eu terminei a faculdade.Na época em que eu era acadêmico fui convidado pelo Doutor Fernando Mattar, um dos médicos do profissional do Vasco, para fazer estágio na base do clube. Eu ainda acadêmico comecei a acompanhar as categorias de base e descobri um pouco sobre bastidores, descobri coisas que muitos não sabem e desconhecem. Infelizmente, por conta dos estudos, eu não pude dar continuidade ao trabalho e acabei saindo para concluir a faculdade. Recentemente, por ironia do destino, eu retornei ao Vasco da Gama formado e especializado em ortopedia e pós-graduado em medicina do esporte. Eu aceitei um convite feito pelo Doutor Clóviz Munhoz para fazer parte de um grupo de médicos que vai cuidar somente do futebol da base do Vasco da Gama”.

Ano passado o garoto Wendel faleceu durante um treino no Centro de Treinamento de Itaguaí. Sabemos que após esse acontecimento o CT foi interditado e o Vasco promoveu algumas melhorias no mesmo. Gostaria que o senhor contasse para o torcedor vascaíno quais foram as principais mudanças que ocorreram.

“Depois dessa triste tragédia que aconteceu com o Wendel eu posso dizer que as mudanças que ocorreram foram extremas. Muitas melhorias aconteceram no Centro de Treinamento de Itaguaí e eu posso dizer que hoje ele conta um departamento médico dele, só dele. Ele conta não só com médicos, mas também com uma equipe multidisciplinar que está lá presente diariamente para conta, detectar problemas e cuidar dos atletas que lá treinam e lá moram. Temos muitos atletas que estão alojados em Itaguaí e o Vasco se preocupou a situação deles. Foi uma visão inovadora do Doutor Clóviz Munhoz e do Doutor Moutinho. Eles programaram e projetaram um departamento médico para a base do Vasco. Hoje está funcionando plenamente com uma infra-estrutura capaz de cuidar dos atletas sem ter a dependência do departamento médico de São Januário, que já está sobrecarregado por conta dos esportes olímpicos e do futebol profissional. Hoje a base tem um departamento médico bem estruturado e capaz de atender qualquer necessidade”.

Como é atualmente a estrutura médica oferecida para os garotos da base? Ela é realmente uma das melhores do Brasil?

“Ela é uma das melhores estruturas médicas que um clube de futebol pode apresentar para sua base. Claro que a gente procura melhorar e muitas coisas ainda irão melhorar, mas o que eu posso dizer hoje sobre a estrutura é que ela é muito boa. A parte médica está ligada a outras disciplinas, como a fisioterapia, a nutrição, a assistência social e a psicologia. Todos nós estamos juntos discutindo e argumentando melhorias para os atletas. Só no Centro de Treinamento de Itaguaí o departamento conta com cinco médicos formados e com capacidade para detectar e tratar de doenças”.

Sabemos que o departamento médico da base do Vasco vive cheio. Nos últimos meses vários atletas do juniores se lesionaram e desfalcaram o time, por exemplo. Queria que o senhor contasse para o torcedor quais são as lesões mais comuns nas categorias de base. Como eles são provocadas? Como fazer para evitá-las?

“Assim como no futebol profissional, o futebol da base sofre do mesmo mal. São lesões basicamente a nível de joelho e tornozelo. São lesões torcionais e lesões ligamentares a nível do joelho e a nível do tornozelo. Num patamar um pouco mais abaixo nós temos as fraturas, mas essas são mais raras que as que citei. A forma de prevenção hoje em dia é algo que a gente tem dificuldade de fazer. O futebol se tornou uma atividade de alta performance e hoje o atleta corre 10 ou 11 quilômetros num jogo. São verdadeiras máquinas. O corpo humano precisa estar preparado para isso. No Centro de Treinamento de Itaguaí a gente consegue ter uma academia de musculação, uma nutricionista para regular a alimentação dos atletas e conseguimos ter um fisioterapeuta para prevenir e evitar que as lesões existentes se agravem. Eu acho que a prevenção começa por aí. O ponto chave da prevenção é a consciência do atleta. Ele tem que ter a consciência que ele é um atleta de alto performance e precisa se portar dessa forma, regulando suas atividades, sua alimentação e se preservando. É necessário também fortalecer a musculatura para evitar essas lesões. É lógico que às vezes não é possível evitar, mas o atleta fazendo tudo isso diminui muito a possibilidade dele adquirir uma lesão”.

Sabemos que os atletas precisam passar por algumas avaliações médicas para que problemas sejam detectados. Gostaria que o senhor explicasse como são feitas essas avaliações e qual a importância que elas têm para o melhor rendimento de um jovem das categorias de base.

“As avaliações são feitas de maneira bem específica. Ela é baseada em protocolos, livros médicos e sob orientação do departamento médico de São Januário, ou seja, sob orientação do Doutor Clóviz Munhos e do Doutor Moutinho. Essa avaliações são semestrais. A primeira é no início da temporada, na pré-temporada, e a segunda no meio da temporada, nos meses de junho ou julho. Elas servem como marcos de referência. Na verdade o que a gente faz é um verdadeiro scanner do atleta. Solicitamos exames de fezes, de urina, eletrocardiograma, radiografia de tórax Todos eles são feitos com o objetivo de detectar algo que ainda não foi manifestado no atleta. Às vezes o atleta tem algum problema, alguma doença e ela ainda não se manifestou. Nosso objetivo é tentar prevenir, tentar detectar se acontece alguma alteração.Não havendo ótimo, pois o atleta já estará liberado para praticar atividade dentro do clube. Tendo um problema a gente vai intervir o mais precocemente possível para evitar algo pior lá na frente. Muitos atletas tem dificuldade de ganho de peso e outros possuem um cansaço extremo. Às vezes esses problemas são provocados por uma verminose”.

Uma das maiores queixas que se faziam às categorias de base do Vasco diz respeito a não existência de médicos em treinos e jogos das categorias. Isso já foi ultrapassado? Gostaria que o senhor falasse um pouco sobre esse fato.

“Hoje eu posso dizer que isso foi totalmente ultrapassado. O departamento médico da base dispõe de cinco médicos formados, sendo três deles ortopedistas. Todos eles trabalham num dia da semana e em horário integral. Não há treino que não tenha supervisão e não há atleta que necessite de auxílio médico e não é atendido. Temos em média de 30 atletas por categoria e todos eles treinam em Itaguaí diariamente sob supervisão médica”.

Como é para o senhor trabalhar num clube da grandeza do Vasco e com profissionais como o senhor Clóvis Munhoz. Aproveitando, nos fale sobre as pessoas que trabalham com você.

“Eu costumo dizer que é difícil encontrar palavras para descrever o orgulho que eu tenho de trabalhar no Club de Regatas Vasco da Gama ao lado de profissionais gabaritados, experientes, com conhecimento e vivência de futebol. Eu posso dizer que é uma experiência única e um aprendizado constante. A cada dia eu vejo o quanto é importante essa relação entre os médicos e a comissão técnica de futebol. Eles se complementam. É um satisfação enorme está no departamento médico do Vasco da Gama com o respaldo do Doutor Clóviz Munhoz, com a visão do Doutor Moutinho e com a troca de informações e conhecimento que nós temos com os médicos do profissional, como o Doutor Fernando Mattar e o Doutor Albino Pinto. Eles são profissionais gabaritados e reconhecidos a nível do Rio de Janeiro e do país. Eu acredito que eles observaram a qualidade dos médicos que estão na base e por isso fomos convidados a integrar essa equipe. Somos cinco médicos: Doutor Carlos Fontes, Doutor Marcos Fernandes, Doutor Rodrigo Furtado, Doutor Eduardo Hank e Doutor Sebastião Carlos. É uma equipe bem coesa e que procura sempre buscar a melhoria da parte médica e reabilitação do atleta do Vasco da Gama”.

Os médicos acompanham as categorias nas competições?

“Todos os torneios em que o Vasco da Gama vai a gente disponibiliza o médico sem deixar deficiência em Itaguaí. Algumas categorias estão viajando e outras vão continuar, como o júnior que está disputando o Campeonato Carioca. Nós procuramos nos organizar da melhor forma possível. A categoria mirim foi para Portugal e foi acompanhada provavelmente pelo Doutor Moutinho. A categoria infantil irá para Itália e será acompanhada pelo Doutor Rômulo. Eles são médicos do grupo profissional e são médicos renomados. Em Miracema o médico vai ser o Doutor Rodrigo Furtado, mas não vamos deixar que o dia que ele estaria em Itaguaí fique descoberto. Ele vai ser coberto por um médico, no caso eu. A ideia é não deixar Itaguaí ficar sem médico e não deixar o Vasco da Gama viajar sem médico. Procuramos nos organizar da melhor forma possível. Mas médico é uma profissão em que você não pode se dar ao luxo de ter um emprego exclusivo e por isso muitos trabalham em outros lugares. A gente busca da não deixar carência alguma”.

Algum jogador lesionado já chegou para o senhor dizendo que estava bem e gostaria de jogar?

“Já sim. Não é algo comum, mas existem alguns atletas que ficam naquela ansiedade de pode jogar, defender a camisa do clube e ser visto. Alguns atletas às vezes estão em estágio final da base e essa é a última oportunidade de mostrar que pode servir o time profissional. Não cientes da gravidade e que a lesão pode agravar, eles acabam omitindo certas informações para o médico, mas na maioria das vezes através dos exames médicos e do conhecimento físico a gente consegue detectar a possível lesão. A gente tem que procurar sempre preservar não só o atleta, mas também o ser humano. Não adianta eles apressarem a volta e futuramente ficarem parados por conta de uma lesão que poderia ter sido tratada. Já vetei atletas que diziam ter condição de jogo por conta disso”.

Como é relação dos médicos da base com os médicos do profissional?

“Os médicos da base possuem uma relação ótima com os médicos do profissional. Hoje em dia graças a informática e ao desenvolvimento da tecnologia é possível se mantenha em contato constantemente para solucionar problemas ou tirar algumas dúvidas. Nós temos reuniões mensais sob coordenação do Doutor Clóvis Munhoz. Essas possuem o objetivo de atualizar o pessoal do profissional, pois apesar do departamento médico de Itaguaí ser independente, ele é vinculado ao de São Januário. Tudo que ocorre em Itaguaí os médicos de São Januário estão cientes. Isso é o que mais importante, a interação em prol da melhoria. É importante frisar que em Itaguaí não temos apenas departamento médico, mas também uma comissão multidisciplinar. Nós temos uma equipe de médicos, de fisioterapeutas, de fisiologistas, de nutricionistas, de assistentes sociais e de psicólogas. Todos se reúnem e buscam informações com o outro. É uma comunicação constante e isso facilita muito o trabalho”.

Deixe uma mensagem final.

“Torcedor vascaíno, fique tranquilo. As promessas do Vasco estão sendo tratadas sempre na busca de que elas se tornem realidade para dar títulos ao clube e alegria para vocês. Gostaria de agradecer a todos os colegas que trabalham no departamento médico e nos outros departamentos que formam essa comissão multidisciplinar. Agradeço também aos Coordenadores Jair Bragança, Teixeira, Luiz Carlos, o Ricardo e o Wilson. Todos eles confiam em nós e acreditam no nosso trabalho. Agradeço aos técnicos, todos eles, o Sorato, o Cássio, o Felipe e o Adriano. Todos eles sempre concordam e argumentam em prol dos atletas. Muito obrigado pela oportunidade”.

Com informações do Programa “Só dá Base/Só Dá Vasco”.

Fonte: Blog do Carlos Gregório Jr – Supervasco

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